O Sertão como Espaço Vivido: Categorias de Análise Geográfica na Obra Vidas Secas de Graciliano Ramos

Autores

  • Luceni dos Santos Pereira Campos Autor
  • José Elias Pinheiro Neto Autor

Resumo

A obra "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, é um marco literário que retrata o sertão nordestino, oferecendo uma leitura geográfica rica do espaço semiárido. Este trabalho analisa categorias geográficas presentes na narrativa — como espaço, paisagem, território, lugar e região — articulando-as ao ambiente físico e às condições sociais dos personagens. Inserido na linha de pesquisa Geografia e Literatura, o estudo utiliza a obra como instrumento de compreensão das dimensões simbólicas, ambientais e territoriais do sertão. Graciliano Ramos pinta o sertão não apenas como cenário físico, mas como uma realidade vivida, marcada pela seca, migração e resistência, evidenciando o impacto da aridez sobre a vida sertaneja. A pesquisa justifica-se pela pertinência de integrar a literatura como ferramenta interpretativa da geografia. A linguagem literária enriquece as análises ao expressar vivências e representações do espaço, complementando abordagens quantitativas e acadêmicas. A leitura de Vidas Secas revela o sertão como uma paisagem simbólica, onde se entrelaçam natureza e cultura sob constante tensão climática e social. Metodologicamente, a análise segue uma abordagem qualitativa interpretativa, embasada em conceitos da Geografia Humanista e Cultural. Foram mobilizadas categorias como espaço vivido (Yi-Fu Tuan), lugar e pertencimento (Relph), território e poder (Raffestin) e paisagem simbólica (Cosgrove). A partir delas, foram identificados elementos naturais — solo árido, vegetação seca, clima hostil — e práticas humanas — nomadismo, pecuária extensiva, sobrevivência frente à escassez. Os resultados evidenciam que Graciliano Ramos constrói uma geografia simbólica do sertão marcada pela ausência: de água, de oportunidade e de pertencimento social. O espaço atua como agente ativo, condicionando a trajetória dos personagens. O território surge como espaço de disputa e exclusão, regido pela posse da terra e poder econômico. Já o lugar, instável e transitório, acompanha a migração constante dos personagens em busca de sobrevivência, revelando identidades fragmentadas. Conclui-se que Vidas Secas transcende a literatura ao configurá-la como documento geográfico da realidade nordestina. A obra fortalece o diálogo entre Geografia e Literatura, oferecendo uma leitura crítica do sertão como espaço de resistência, desigualdade e identidade cultural.

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Publicado

2025-11-24